Café Literário
Teatro de Jaciara é raro e aclamado!
P.S. Deixem a arte abstrata para quem faz melhor uso dela, os artistas plásticos.
- VINICIUS MOURA
Enquanto um parece subjetivar a emoção, o outro a escancara. Essa seria a diferença básica entre o chamado teatro contemporâneo e o teatro naturalista, o teatro contemporâneo exige do seu espectador uma atenção redobrada e um instinto decodificador que serviria basicamente para traduzir movimentos, gemidos e cores em um estado de emoção da personagem ou do desenrolar de um contexto que nesse caso, sempre ou quase sempre está intrínseco, ou seja, no contemporâneo esconde-se o máximo a estrutura habitual da ficção (início, meio e fim – com direito ao clímax) subvertendo a lógica, nos levando a delirar entre tanta poesia abstrata e não nos levando a lugar nenhum pelo senso prático da coisa, isto é, para quem quer acompanhar uma história com início, meio e fim com direito ao clímax e personagens falantes (através de uma linguagem que identificamos como natural no nosso dia-a-dia), o teatro contemporâneo soa confuso e distante de quem o vê.
Pessoalmente acho que a predominância do gênero contemporâneo nas casas de teatro do Brasil seja o grande responsável pela evasão do público. Não culpo os novos métodos tampouco a tecnologia inserida em cena, o que torna um espetáculo contemporâneo a fim de não agradar o grande público seria sua linguagem abstrata e subjetiva sempre jogando o jogo da suposição com quem o vê. “Suponho que esse tecido vermelho represente isso”, “suponho que este vaso de vidro represente o filho daquela personagem... ops, essa não, ela o deixou cair. O vaso quebrou. Então o filho dela morreu?” sim, isso existe, eu mesmo o vi dia desses.
No viés do cenário contemporâneo vem o teatro naturalista, que em seu começo significava reproduzir a realidade tal como ela é, isso perdeu força já que a arte de alguma forma é um escape da realidade, no entanto o teatro naturalista não se trata de um espelho dos acontecimentos reais como são, impedindo os “floreios” da ficção, mas sim uma busca do entendimento da essência humana e da vivacidade cênica do ator, anulada ou apenas engessada pelo contemporâneo, isto é, aqui no naturalista o personagem se parece com a gente, fala como a gente, anda como a gente e nos representa de alguma forma, quando ele sofre, ele sofre como a gente, quando uma mãe perde o filho em seus braços em cena, ali está o seu desespero representado em lágrimas reais e a morte acontece “ao vivo” com o desfalecimento interpretado, o ator cai, e a mãe o repousa sobre o chão tal como seria na vida real. Não preciso supor, nem deduzir, nem duvidar de que era exatamente isso que o dramaturgo queria, choramos, não pela incerteza nem pela plasticidade poética abstrata da cena, mas porque nos comparamos, “Vi uma mãe perder seu filho exatamente assim a alguns anos atrás, sua dor muito se parecia com a dor desta mãe que está em cena.”
Esse comparativo não representa exaltação ou desmerecimento de gêneros teatrais, serve apenas para elucidar a realidade da arte cênica nos últimos tempos, a TV e o cinema ganharam força porque caiu no gosto popular por falar de gente como a gente, a fórmula secreta é simples, o publico tem que se ver em cena (mesmo que a historia seja contada em outro tempo, a composição cênica não importa, o que importa é o humano em cena, e isso não muda com o tempo – dá se então o sucesso das histórias de época também com atuações naturalistas, evidentemente), por isso a telenovela e a sétima arte disparou na frente do pai de todas as artes da representação, O TEATRO. Jaciara, a cidade do interior do Mato Grosso é destaque nacional na cena naturalista, a única de um estado que exporta tantos talentos para a região Sudeste, estamos crescendo e contando grandes histórias, mas sobretudo resgatando o público para o teatro. “Eu vou ao teatro.” “Eu gosto de teatro”. “O teatro é legal”. “Quero fazer teatro”.
Se esse artigo redigido por um singelo diretor e dramaturgo do teatro naturalista te faz concordar, ótimo, senão, ótimo também, viva a diferença de gêneros, mas não deixem o grande personagem naturalista morrer no último ato do universo de produção teatral do país! Diretores e autores ressuscitem a linguagem em suas casas de teatro, e viva o Teatro Naturalista no Brasil.
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