
Até poucos dias atrás, Sushila Meena, de 10 anos, vivia uma vida comum, longe dos olhos do público, em uma pequena vila no estado de Rajasthan, no norte da Índia.
Mas tudo mudou quando o lendário jogador de críquete Sachin Tendulkar compartilhado um vídeo nas redes sociais dela jogando críquete, trazendo-a para os holofotes da mídia.
Ele elogiou sua ação no boliche e disse que ela tinha “tons do” ex-jogador de boliche indiano Zaheer Khan – que era conhecido por sua precisão, swing, variações inteligentes com a bola e uma ação de boliche distinta.
O vídeo foi um sucesso instantâneo e, embora tenha sido visto por milhões e compartilhado por dezenas de milhares de pessoas, há uma reviravolta irônica: a garota não reconhece o ícone do críquete que a tornou famosa.
“Eu não sei quem ele [Sachin Tendulkar] é”, diz Sushila, explicando que sua família não tem televisão e ela nunca assistiu críquete.
No entanto, ela é grata a ele.
Sushila, que vem de uma família tribal pobre, agora é reconhecida e apreciada por todos que conhece. De políticos a ativistas sociais e até parentes distantes, todos agora querem uma foto com ela.
Sushila luta para encontrar as palavras certas para descrever esta nova realidade. Ela simplesmente sorri e posa para fotos, ainda perplexa com sua fama recente.

Mas assim que veste o uniforme escolar e entra em campo com uma bola de borracha na mão, a tímida menina se transforma em alguém destemido, forte e focado.
“Quando a bola está na minha mão, tudo que consigo pensar é em tirar o batedor”, diz ela.
Sua colega de classe Asha, que muitas vezes está do outro lado com um taco na mão, descreve o boliche de Sushila como “difícil”.
“A bola dela vira inesperadamente e de repente atinge o postigo”, diz ela.
Em casa, a mãe de Sushila, Shantibai, está orgulhosa do que a filha conquistou.
Ela diz que embora muitos estejam ansiosos para conhecê-la, nem todos a apoiaram.
Alguns questionaram os pais por permitirem que a filha jogasse críquete em vez de fazer as tarefas domésticas.
Estas opiniões são comuns em partes da Índia rural, onde muitas vezes se espera que as raparigas fiquem em casa e sejam desencorajadas de praticar desportos ou actividades fora dos papéis tradicionais de género.
“Não digo nada a eles, nem ouço o que dizem”, diz Shantibai.
“Eu nunca vou impedi-la de jogar críquete.”
Todos na escola de Sushila jogam críquete e o crédito por isso vai para o professor, Ishwarlal Meena.
“Comecei a incentivar os alunos a jogar críquete quando entrei em 2017”, diz ele. “É necessária uma atividade divertida para mantê-los envolvidos na escola – caso contrário, eles ficarão em casa”.
O Sr. Meena diz que inicialmente ele e outros professores formavam equipas e faziam os alunos brincar com eles. Logo todos queriam participar.
Embora tenha assumido o papel de treinador, o Sr. Meena não tem treinamento formal em críquete. Ele assiste vídeos no YouTube para aprender e ensinar novas técnicas aos alunos.
Assim que teve alunos suficientes, o Sr. Meena criou uma conta nas redes sociais para mostrar seu talento no críquete. Aos poucos as pessoas começaram a reagir aos seus vídeos – algumas até deram dicas sobre forma e técnicas.

Sushila não é a primeira aluna da escola a se tornar uma sensação na internet.
No ano passado, outra estudante, Renuka Pargi, se tornou viral por suas habilidades de rebatidas. Atualmente, ela está matriculada em uma academia particular de críquete – que também paga todas as suas despesas – na capital do estado de Rajasthan, Jaipur.
Mas a escola e os alunos daqui precisam de mais do que apenas atenção nas redes sociais.
A aldeia de Sushila e a sua escola continuam em más condições.
“As pessoas vêm, fazem grandes promessas, mas nada muda”, diz Meena.
Ele acrescenta que a escola oferece educação apenas até o nível primário.
“Assim que passarem da quinta série, o críquete irá parar. Eles não terão oportunidades”, ressalta.
Funcionários do governo local dizem que verão o que pode ser feito para proporcionar melhores instalações à aldeia e aos seus estudantes. O departamento florestal enviou alguns funcionários para fazer um levantamento e verificar se algum terreno pode ser cedido à escola para ampliar o seu campo de críquete.
Mas nada aconteceu até agora.

Enquanto isso, a casa de Sushila fica inundada de presentes. Há morcegos por toda parte, mesmo ela sendo jogadora de boliche.
A professora dela diz que ninguém comprou para ela uma bola de críquete de verdade ainda. Eles são muito mais difíceis do que a bola de borracha com a qual ela pratica atualmente e são necessários para praticar níveis mais elevados do esporte.
Quando questionada sobre o que fará com tantos morcegos, Sushila diz timidamente que “tentará usá-los”.
Enquanto isso, a grande questão na aldeia é se a fama viral de Sushila terminará como os presentes que ela recebe – muita atenção e entusiasmo, mas que, em última análise, não fará nenhuma diferença real em sua vida.
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