PUBLICIDADE

Polícia

Programa de pós-ocorrência da PM busca quebrar ciclo de violência a público vulnerável

Policiais militares, assistente social e psicólogo visitam apenas às vítimas que aceitam a presença da equipe

 |
Divulgação / Reprodução

Uma hora da manhã de 7 de setembro de 2019. Um vizinho ouve gritos de socorro e chama a Polícia Militar em um bairro em Rondonópolis (215 km ao Sul). Os policiais encontram uma mulher de 24 anos assustada gritando por ajuda porque o namorado a agredia e se recusava ir embora da casa dela. Os militares tiveram que usar a força para retirar o homem de 27 anos que foi preso desta vez. Havia outros boletins de ocorrência, mas desta vez, ele foi pego em flagrante.

Dezenove dias se passaram e um membro da equipe da Patrulha de Assistência à Vítima, do 5º Batalhão da Polícia Militar, liga para a jovem perguntando se ela poderia receber a visita dos policiais para saber como se sente, passado duas semanas dos fatos. Ela aceita. A decisão da vítima, seja ela de violência doméstica, idosos, crianças, LGBTQI+ ou outro público vulnerável, em receber os policiais militares é determinante para que o PAV funcione.

O sargento Juliano Bruno Mota, acompanhado da soldado Juliana, passam em uma unidade de saúde e levam a assistente social Graciela Rodrigues da Silva e a psicóloga Cristina Lopes para visitar a vítima. Há pouco mais de duas semanas, a Prefeitura de Rondonópolis retomou a parceria com o programa da Polícia Militar. A partir de 1º de outubro, a Delegacia da Mulher também passará a integrar o PAV.

O trabalho de pós ocorrência desenvolvido em Rondonópolis pode fazer toda a diferença, no caso de violência doméstica. Somente de janeiro a agosto de 2019, 59 mulheres foram vítimas de feminicídio em Mato Grosso. Cerca de 61% das mortes foram dentro de casa e por motivos passionais na maioria dos casos. Se não tem arma na mão, o agressor usa faca e outros objetos contundentes, perfurantes ou mesmo a força física. Os dados são da Coordenadoria de Estatísticas e Análise Criminal (Ceac) da Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Mudança cultural

Essa ação da Polícia Militar em Rondonópolis busca quebrar o ciclo da violência. Mas o desejo da vítima é respeitado. No caso de violência doméstica, muitas não aceitam a visita.

“Algumas é por conta de não acreditar que a visita pode ajudar ou reativar o vínculo com o agressor e prefere não receber. Mas aquelas que recebem a patrulha, relatam os problemas e buscamos dar acompanhamento apoio jurídico, assistência social e psicológico”, destaca o sargento.

A psicóloga Cristina Lopes diz que o trabalho da Polícia Militar é louvável, contudo, parar essa agressão, especialmente, às mulheres, e reduzir feminicídio, passa por uma mudança cultural da sociedade.

“Até pouco tempo era permitido o homem matar a mulher em nome da honra. É necessária a mudança de cultura, que estrutura essa violência. Temos uma cultura machista enraizada dentro de nós. Quando a gente pensa em mudar, há dificuldade de aceitação. A gente pensa muito em políticas públicas de enfrentamento, mas não em prevenção. A gente precisa educar os filhos para não serem machistas, há a masculinidade tóxica que não aceitam uma negação, isso precisa ser mudado”.

Para a assistente social Graciela Rodrigues da Silva, para que deixem de ser vítimas, as mulheres também precisam deixar a dependência econômica dos companheiros.

“A dificuldade de desligar do parceiro mesmo após a agressão é grande. Acredito que uma estratégia é prepará-las ao mercado de trabalho, por meio de cursos, de treinamentos. Às vezes nem tem sentimento mais, só a dependência econômica para sobrevivência dela e dos filhos”.

Olhar mais humano às vítimas

O PAV foi criado em 2016 pelo coronel PM Wilker Sodré, comandante do Comando Regional de Rondonópolis, e iniciou na cidade sede. O PAV é um dos 15 programas do Guardiões do Sudeste. Apesar de não se restringir às vítimas de violência doméstica, ele serviu como inspiração e modelo para a Patrulha Maria da Penha, que funciona em outros municípios do Estado.

O comandante do 5º Batalhão da PM, tenente-coronel Gleber Cândido Moreno, faz questão de destacar que o PAV atende também crianças vítimas de violência, idosos, LGBTQI+. “São todos os públicos vulneráveis. A gente busca esse atendimento de pós ocorrência e também busca dar encaminhamentos”.

Além da Prefeitura Municipal, Conselho da Mulher, que ajudam na parceria, a seção de Rondonópolis da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também se interessou em ajudar com atendimento jurídico nos casos mais graves.



deixe sua opinião






  • Máximo 700 caracteres (0) 700 restantes

    O conteúdo do comentário é de responsabilidade do autor da mensagem.

    Clicando em enviar, você aceita que meu nome seja creditado em possíveis erratas.



mais lidas de Polícia (últimos 30 dias)

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE
TOPO

Contato

Redação

Facebook Oficial