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Polícia

Violência doméstica atinge todas as classes

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Divulgação / Reprodução

Parecia uma noite comum para a advogada A.M.M., mas esse não era o plano do então companheiro, que a agrediu por mais de uma hora e meia a socos e pontapés, dentro do quarto do casal, no dia 6 de abril de 2016. Em lágrimas, ela contou a triste história de violência doméstica sofrida após um ano e oito meses de relacionamento e muitos planos de casamento.

“Convivíamos há oito meses, tudo ia bem entre nós, tanto que até estávamos nos organizando para casar. Nesse dia, cheguei em casa após o trabalho e vi o celular dele recebendo diversas mensagens pelo whatsapp, algo normal para mim, já que havíamos combinado que poderíamos falar com quem quiséssemos, mas não apagaríamos as mensagens. Em seguida, o celular tocou e era uma ex-namorada dele. Ele atendeu e depois de pouco tempo avisou que iria tomar banho. Estranhando o comportamento, pois ficou nervoso quando me aproximei de onde estava o celular, quando ele saiu de perto eu decidi verificar o aparelho e, para minha surpresa, não havia nenhuma mensagem, todas haviam sido apagadas”, relata.

Diante da quebra do acordo, A. foi até o banheiro questionar o companheiro sobre o motivo pelo qual não cumpriu o combinado. Foi quando levou o primeiro murro, que a fez cair. “Nem sequer discutimos sobre o que aconteceu, simplesmente eu perguntei e ele já me socou. Perdi o sentido, quando consegui reagir pedi desculpas e que ele parasse de me bater, mas ele não parava. Dali ele foi até a porta do quarto, a trancou e recomeçou a pancadaria. Me empurrou de novo, levei muitos chutes nas costas, socos no rosto, na cabeça. Quando consegui escapar dele comecei a correr em círculos e ele atrás de mim desferindo golpes. E eu gritando ‘pára’, e ele continuava, parecia louco”, descreve.

Mesmo em meio aos apelos da vítima, o ex-companheiro dela continuou com as agressões, apesar da presença da filha dele, de 16 anos, que ouviu de fora do quarto os momentos de terror vividos pela advogada. Apavorada diante da situação, a jovem ligou para dois irmãos, que também vivem no apartamento, para socorrerem a madrasta. “Soube depois que ela ligou para os meninos. Eles vieram rapidamente e, com uma chave extra, abriram a porta e tiraram ele de cima de mim. Nesse momento fiquei aliviada, achei que ia morrer. Nessa noite eu vi que não o conhecia”, diz ela.

Após todo o episódio, A. disse que não sabia o que fazer, já que o parceiro havia jogado seu celular no vaso. Pegou o telefone fixo e ligou para a irmã ir buscá-la. “Eu estava desorientada por tudo que havia ocorrido, o rosto todo deformado, inchado e cheio de hematomas de tanto apanhar. Aos prantos só pedi que ela me levasse para o meu apartamento. No dia seguinte tomei coragem e fui à Delegacia da Mulher registrar o boletim de ocorrência e fazer o exame de corpo de delito”.

A decisão de denunciá-lo, segundo a advogada, era a única opção, já que não podia admitir um ato tão covarde. “Nenhuma mulher pode aceitar ser espancada. Não há motivos que justifiquem a violência doméstica. Todo homem agressor deve ser denunciado e punido pelo seu crime”.

A operadora de Direito fez questão de enfatizar que a vida mudou após o incidente. “Vivi uma noite traumática que não desejo para ninguém. Hoje preciso de acompanhamento psicológico, não durmo bem, tenho pesadelos frequentes sendo agredida. Deixei de praticar esportes ao ar livre e não consigo dirigir à noite, só saio se alguém for me buscar. Aonde vou estou sempre alerta, tenho medo de encontrá-lo por aí”, frisa.

A forma de se prevenir da violência doméstica, conforme a advogada, é observar os indícios que o homem agressor passa. “Hoje sei que ele deu vários sinais, mas não dei atenção. Gritou comigo algumas vezes, fez brincadeiras vexatórias em outra ocasião, tentou me diminuir inúmeras vezes, dizendo que eu não servia para nada. Porém, eu não percebi que a grosseria e agressividade estavam evoluindo e que poderiam acabar em agressão física”.

Dentre as dicas de prevenção da advogada estão verificar os antecedentes criminais do seu pretendente e analisar a história de vida da pessoa. “Eu não tive esse cuidado. Somente após o crime é que fui saber que correm na Justiça três processos de agressão contra ele. Que já bateu em algumas das seis ex-mulheres que ele teve, nos filhos e até no pai de uma delas. Se soubesse disso não me envolveria com ele, entretanto, por desconhecimento, me meti nessa barca furada. Então, mulheres, por favor, se informem sobre seus futuros parceiros”.

Recomendação - O conselho da advogada para quem já sofre violência verbal, psicológica ou física é “tenha coragem de reagir, vontade de sair dessa situação e não se cale diante das ameaças. Se você não fizer nada, não denunciar, pode ser a próxima mulher a ser morta”.

Ela ainda revela que foi aconselhada a desistir da denúncia contra o ex-companheiro, mas que não podia fazer isso. “Não apenas apanhei, minha dignidade foi invadida. A exemplo da grande Maria da Penha, que conseguiu por meio da lei garantir punição a esses covardes agressores, não poderia me silenciar diante deste fato. A mulher que fica quieta contribui para que seu agressor faça novas vítimas. Quero apenas que a Justiça seja feita”.



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