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O mercado energético brasileiro: Uma análise sobre a Companhia Energisa S/A
- Paulo Franco
A ENERGISA, como a grande maioria das pessoas conhece, é uma grande concessionária que atua como fornecedora de energia elétrica no estado de Mato Grosso e outros 10 estados. Nos últimos meses a concessionária vem sendo alvo de muitas críticas pela sequência de possíveis altas nas contas de energia, o que influencia negativamente nos orçamentos familiares e gera um acréscimo no preço de produtos e serviços, afinal a energia elétrica a exemplo dos combustíveis, influencia diretamente na economia nos mais variados produtos e serviços.
Sobretudo, este artigo não analisa o comportamento de preços praticados pela ENERGISA, mas sim avalia alguns dos resultados econômico-financeiros obtidos pela empresa nos últimos anos e suas consequências negativas para a economia nacional. Por se tratar de uma S/A (Sociedade Anônima) e comercializar ações na bolsa de valores, a empresa publica anualmente seus balanços e resultados, conforme preceitua o art. 133, § 3º da lei 6.404/76, conhecida como Lei das S/As. As informações abaixo foram extraídas dos respectivos balanços:
Entre 2015 e 2018 a ENERGISA obteve o Lucro Líquido Médio de 0,547 bilhões de reais (QUINHETOS E QUARENTA E SETE MILHÕES DE REAIS) por ano. O aumento no Lucro Líquido entre 2015 e 2018 foi de 236%, quando a empresa atingiu a marca de quase 1,18 bilhões de reais (UM BILHÃO CENTO E OITENTA MILHÕES DE REAIS).
Dos 7,7 milhões de clientes, apenas 44 mil são indústrias, 0,56%. Sob a ótica do consumo a indústria representa em torno de 7% da demanda total. Em termos de faturamento a participação na receita com energia vendida às indústrias é 6,24% do total faturado, totalizando 1,5 bilhões de reais. O Grupo ENERGISA possui 13 concessionárias em 11 estados brasileiros. A empresa estima que atende em torno de 20 milhões de pessoas, o que representa 10% da população brasileira. Todas estas informações constam no balanço 2018.
Pelo fato das atividades de geração e distribuição de energia gerar baixa demanda por mão de obra, acredita-se que os lucros obtidos pela companhia ENERGISA não são justificáveis sob o aspecto da economicidade, tendo em vista ser uma concessão de serviço público.
A empresa gera em torno de 19 mil empregos, o que equivale à geração de 1 emprego para cada 1,25 milhões faturados anualmente, um indicador muito baixo se comparado à indústria ou comércio, por exemplo. Para se fazer um comparativo, a Móveis Gazin em seu balanço 2018 publicado, onde se consolida indústria, atacado e varejo, dentre outras atividades, obteve um faturamento de 4,3 bilhões para 8.189 empregos diretos, o que corresponde a geração de 1 emprego para cada 525 mil reais faturados, o que significa que gera mais que o dobro de empregos quando comparado à ENERGISA em relação ao seus respectivos faturamentos.
Quando se compara o Lucro Líquido da ENERGISA de 1,18 bilhões de reais com a Receita de Vendas de energia para a indústria que foi 1,47 bilhões em 2018, constata-se que o Lucro Líquido da empresa corresponde a 80% da Receita relativa ao fornecimento de energia para a indústria.
Caso o Lucro Líquido fosse suprimido em 50%, ou seja, fosse de 590 milhões de reais, e os demais 590 milhões fossem transferidos como forma de desconto subsidiado à indústria, o setor industrial poderia ter uma capacidade de geração de aproximadamente 37 mil empregos com salário mínimo. Caso o Lucro fosse reduzido ainda mais, em 75%, a capacidade de geração de empregos seria de aproximadamente 56 mil e ainda assim a ENERGISA teria um Lucro Líquido de 295 milhões de reais em 2018.
Considerando estes números observa-se que não apenas as altas nas faturas de energia - que estão tirando poder de compra das famílias - são prejudiciais à economia, mas o sistema energético como um todo. Por estas e outras questões os sistemas de geração e transmissão de energia precisam ser revistos e reestruturados, e os meios economicamente viáveis, subsidiados e fomentados, como é o caso da energia solar, eólica, aproveitamento de resíduos, dentre outros, pois o custo econômico-social do atual sistema energético é um grande entrave ao desenvolvimento econômico brasileiro.
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