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Mato Grosso

Indígenas que plantavam para sobreviver aumentam produção agrícola com o uso de máquinas

 | Mayke Toscano/Secom-MT
Mayke Toscano/Secom-MT

Os indígenas Manoki, desde meados do século XX quando perderam boa parte da população, têm buscado formas de sobreviver com plantio em roças tradicionais. Na Terra Indígena Irantxe, localizada na região de Brasnorte (MT), cerca de 10 aldeias se uniram para criar uma lavoura mecanizada e, assim, além de produzirem para o consumo das famílias locais, conseguem comercializar os produtos.

O cacique Neilton Rodrigo Iranxe, que também se tornou técnico agropecuário, conta que, juntas, as aldeias dos povos Manoki da região tem cerca de 400 indígenas. A ideia de expandir a produção surgiu em 2004, quando foi criada a primeira lavoura mecanizada na região, em uma área de 1.000 hectares.

“Desde então, passamos a produzir soja, milho, girassol e, recentemente, feijão mungo, feijão azul, feijão caupi e pipoca”, disse.

Para gerir a lavoura, os indígenas criaram a ‘Agropecuária Manoki’ e outras duas associações: Associação Watoholi e Associação Manoki Pita.

Segundo Neilton, a maior parte das famílias possuem roças tradicionais, criam galinhas e porcos. A renda familiar dos povos Manoki, atualmente, provém de empregos e da produção local.

O cacique disse que os produtos cultivados nas lavouras vão para a Copihanama, a cooperativa dos povos indígenas. Já o que é produzido nas roças vai para o consumo das famílias que vivem nas aldeias.

“Agora vamos produzir, alimentos saudáveis agregando valores do nosso conhecimento, para consumo local e o excedente vamos comercializar, gerando renda pras famílias que produzirem”, explica.

Desafios

Toda a produção é feita sem auxílio de recursos públicos. A evolução das lavouras da TI Iranxe provém da própria renda gerada com a produção local.

Apesar disso, para que o grupo continue gerando renda e empregos, o cacique disse que é necessário mais investimentos nas estruturas físicas para a criação de aves e de suínos, que são criados soltos, atualmente.

“Também estamos nos organizando para implantar nas aldeias a agricultura familiar, respeitando a nossa cultura e o modo de vida do povo Manoki”, pontua.

Outra dificuldade enfrentada pelo grupo é a questão do solo, já que a área está localizada no Cerrado.

“O solo é fraco em nutrientes, então precisamos fazer novas roças todos os anos. Isso acaba dificultando um pouco a evolução da produção”, disse.

Luta e tradição

A história dos povos Manoki não é muito diferente da maioria dos índios no Brasil. O grupo também passou por massacres e doenças advindas do contato com os brancos e, com isso, teve grande parte da população dizimada.

Já a maioria dos sobreviventes passaram a viver em uma missão jesuítica, responsável por uma desestruturação sócio-cultural do grupo.

Em 1968, os Manoki receberam do governo federal uma terra fora de sua área de ocupação histórica, onde as características ambientais inviabilizaram o uso tradicional dos recursos.

Apesar disso, eles começaram a testar meios de plantios para a própria sobrevivência e, hoje, são responsáveis pelo próprio sustento e ainda geram emprego com a expansão da produção.

Apoio no reconhecimento dos direitos

Atualmente, os Manoki que vivem em Brasnorte contam com uma assessoria jurídica para seguir todos os trâmites legais em relação à plantação na área indígena, principalmente em relação às questões ambientais. Além disso, eles estão recebendo ordenações sobre seus direitos dentro da sociedade. 

“Estamos fazendo o acompanhamento e os ajudando no processo de ampliação para que tudo corra dentro da legalidade. Por meio de eventos sociais nas aldeias, também estamos levando conhecimento sobre seus direitos dentro da Previdência”, explica a advogada Cássia Souza Lourenço.

Cássia Lourenço, especialista em direito indígena, afirma que esses trabalhadores compõem o grupo especial da Previdência Social e podem se aposentar sem precisar comprovar a contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

“Esses povos vêm de muita luta e muitos deles já podem receber o benefício da aposentadoria, assim como auxílio-maternidade, auxílio-doença, entre outros”, orienta.



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