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Beleza e Saúde

Pacientes com câncer voltam para casa sem atendimento

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Divulgação / Reprodução

A situação se agravou no Hospital de Câncer, em Cuiabá, única referência na especialidade em Mato Grosso, onde os serviços estão parcialmente suspensos há 14 dias, por falta de repasse de verbas públicas, e pacientes, principalmente, do interior estão voltando para casa sem o devido atendimento, isso mais de uma vez.

O clima é de tristeza, desânimo, revolta e principalmente preocupação no ambulatório onde adultos e crianças fazem tratamento de combate à doença.

Reportagem do Gazeta Digital foi ao ambulatório e conversou com pacientes e acompanhantes.

Brenda

Brenda, de 2 anos, enfrenta um câncer no fígado, é o hepatoblastoma, diagnosticado em maio de 2015. A mãe dela, Leiliane Souza Lopes, 21, parou de trabalhar como faxineira para acompanhar o tratamento da menina. Elas moram em São Pedro da Cipa, a 134 quilômetros da capital. "Eu venho com ela, de van da Prefeitura, uma, duas vezes por semana, depende da necessidade, precisando eu venho", explica Leiliane.

A menina já passou por seis sessões de quimio e precisa passar por exames para saber se vai continuar a fazer ou se essa parte do tratamento vai parar. "Mas o médico precisa atender, para passar os exames, e já vim duas vezes, esta semana e semana passada e não fomos atendidas. Não sei quando vamos ser atendidas", lamenta a mãe da criança, lembrando que está esperando esses exames para saber se o câncer estancou ou avançou. Para uma mãe, diz ela, essa expectativa é terrível.

Leiliane lembra do difícil diagnóstico do câncer de fígado da menina, após uma crise de vômito. "Foi uma angústia, começou a quimio, ela perdeu todo o cabelo depois de três meses de tratamento e agora graças a deus está bem, mas eu fiz tudo que pude, agora não pode brincar com a saúde da minha filha", reclama.

Durante o tratamento, Brenda não teve intercorrências, isso quer dizer que "correu tudo bem", dentro do previsto pela equipe médica do Hospital do Câncer. A mãe teme que a interrupção na condução do tratamento possa trazer prejuízos à pequena paciente.

Com um laço de fita na cabeça, ainda sem os cabelos, Brenda dormiu maior parte do tempo em que a mãe deu entrevista. No entanto, passa bem, está se alimentando e só tem vômitos quando faz quimio. Até uma semana após as sessões, ela passa mal, não mama e nem come nada e se sente fraca.

"É um absurdo isso que está acontecendo, a gente tem que entender o lado deles, de não ter dinheiro, de não ter repasse, e quem vai entender o nosso lado?" - questiona.

Assentada em um sofá, na sala ambulatorial, Dyeniffer Pietra Neter Padilha, 19, veio de Lucas do Rio Verde, a 283 quilômetros de Cuiabá pela segunda vez para ser atendida no Hospital do Câncer, mas não foi. Ela trata uma Leucemia Mielóide Aguda (LMA) há quase dois anos. Está em fase de "manutenção". Chegou a ficar internada em Cuiabá por 4 meses. Teve que trazer a filha, que é pequena, de 3 anos, para capital. Mas o marido, que trabalha em fazenda, ficou em Lucas. Teve alta em setembro do ano passado. Desde então, tem que tomar toda quarta-feira uma injeção, a MTX, e fazer hemogramas mensalmente. "Só que já vim três vezes à Cuiabá, para passar pela consulta e o médico prescrever a injeção, porque se ele não faz isso a gente não consegue comprar, é caro, e tem toda uma regra para tomar esse medicamento", explica Dyeniffer. Resultado: está sem tomar a injeção há três quartas-feiras.

Dyeniffer está assustada. "Só Deus sabe o que eu passei, muita preocupação no início da doença, fiz quimioterapia, perdi meu cabelo e não quero correr o risco da doença voltar, de passar por tudo isso de novo, porque o tipo da minha leucemia é agressiva e rara", lamenta Dyeniffer.

Ela reclama também que toda vez que vem a Cuiabá, apesar de vir de van da Prefeitura, sempre tem que trazer dinheiro. "A gente sempre gasta, às vezes tem que dormir para esperar exame, para esperar atendimento. Fiz um hemograma, se estiver tudo bem vou voltar sem atendimento, mas não estiver, vou ser atendida", explicou a paciente, ainda na expectativa de que esteja bem e mesmo assim seja atendida.

A equipe médica do Hospital do Câncer está atendendo somente urgências e emergências.

Na unidade, tem pacientes internados, que deram entrada antes do atraso dos repasses, inclusive na UTI.
Pronto atendimento também funcionando, para pacientes já cadastrados e que sofram alguma intercorrência relativa ao câncer.

Direção

O presidente do Hospital de Câncer, Laudemi Moreira, está visivelmente alarmado com esta situação.

"Estou com pacientes batendo na porta. O câncer volta, é igual bumerangue. Muitos se tratam, curam, mas outros não, não é brincadeira, é muito sério. E não estamos sentindo segurança nas falas dos gestores da saúde municipal e estadual. Não temos dinheiro para nada, não temos dinheiro para comprar remédio, isso me causa muita indignação", reclama o administrador.

No final da manhã desta terça-feira (22), haveria uma reunião com a equipe médica, formada por 55 especialistas, para buscarem uma saída interna, já que tanto a Prefeitura quanto o Estado não fazem o repasse.

Recursos

O Fundo Nacional de Saúde já depositou na conta da Prefeitura de Cuiabá o valor para média e alta complexidade referente ao mês de novembro, no último dia 8, conforme exposto em site do órgão .

"O dinheiro está na conta de Cuiabá, que tem gestão plena do SUS, mas alega que têm 45 dias para fazer isso, mas, pelo amor de Deus, temos uma fila com mais de 100 pacientes sem atendimento, o que vamos fazer com eles?" - questiona Moreira.

Dos recursos que mantêm o Hospital de Câncer, 60% são federais.

Já o Estado, que deveria passar valor referente a 40% do orçamento mensal da unidade, alega crise financeira.

GD entrou em contato tanto com a Prefeitura de Cuiabá quanto com o Governo do Estado para questionar sobre esta situação alarmante.

A SES emitiu esta nota de esclarecimento. Confira.

"A Secretaria Estadual de Saúde esclarece que efetuou os pagamentos para os Hospitais Filantrópicos referentes à média e alta complexidade dos municípios, ou seja, os serviços ambulatoriais, internações de pacientes e UTIs estão pagos até setembro. Os processos referentes ao mês de outubro já estão em andamento e deverão ser pagos nas próximas semanas.

Informamos que até sexta-feira (25) será apresentado aos Hospitais Filantrópicos uma proposta com relação as reivindicações quanto aos déficits. A SES esclarece que embora não possua contrato direto com essas instituições, Até a presente data, o estado repassou para Cuiabá $R 10.825,588. Entendemos que há necessidade de discutir a parceria tripartite (governos federal, estadual e município), inclusive com a participação dos municípios de Cuiabá e Rondonópolis definindo valores e responsabilidades com os importantes serviços prestados pelos hospitais filantrópicos. 

Salientamos governo de Mato Grosso já investiu quase R$ 2 bilhões em saúde em Mato Grosso. Desde o início do ano até agora, o município de Cuiabá, por exemplo, recebeu mais de R$ 125 milhões para custeio da saúde referente à média e alta complexidade".

Já a Prefeitura de Cuiabá ainda não se posicionou sobre o assunto.

Filantrópicos

Além do Hospital do Câncer, outros 4 grandes hospitais filantrópicos de Mato Grosso estão com atendimentos suspensos. São as Santas Casas de Cuiabá e Rondonópolis, o Hospital Geral Universitário (HGU) e o Hospital Santa Helena.



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